Nunca Romantize um Avivamento: O Perigo da Fé Automatizada
Reflexão profunda sobre o verdadeiro avivamento espiritual. Descubra por que romantizar o mover de D’us pode ser o maior autoengano da Igreja moderna.
AVIVAMENTO


1. Introdução
Nunca romantize um avivamento.
Esta frase me veio à mente em um momento de transição. Hoje, dia primeiro de novembro de dois mil e vinte e cinco, percebo que, aos 36 anos, estou novo demais para ser velho e velho demais para ser considerado jovem.
Desde a adolescência, observo uma espécie de narrativa evangélica — um movimento que ultrapassa o campo religioso e se tornou quase uma cultura. Minha experiência nos meios religiosos, especialmente cristãos, me fez perceber que "o povo do Livro" (sem qualquer referência pejorativa) vive (ou sobrevive) com uma expectativa retroalimentada semanalmente (e, às vezes, diariamente) de que algo absolutamente extraordinário ou (como amam rotular) "sobrenatural" vá acontecer a qualquer momento.
Mas após muitos anos de envolvimento ministerial, compreendi, não sem dor, o poder que o ambiente exerce sobre as motivações e inspirações do indivíduo.
No interior de uma igreja, tudo parece se dividir em duas faces: uma estrutura rígida o suficiente para manter o status quo, e uma esperança difusa de que mudanças milagrosas virão, ainda que só realizáveis mesmo no imaginário coletivo. E é exatamente aí que "a coisa aperta".
Como num corpo, as ideias, impressões, hábitos e — principalmente —, expectativas dentro do meio institucional religioso têm o potencial de se reproduzirem como células. Isso naturalmente molda seus membros a partir de padrões repetitivos. Num ambiente institucional coletivo como o de matriz cristã, quase nunca uma dedicação ou impulsão individual vem despida das influências que o "norte comum" institucional produziu. Isso não deveria ser valorado necessariamente como algo negativo em si, pois consiste num padrão de comportamento que pode ser observado em toda a Criação, sendo, por isso, um fenômeno inescapável de qualquer agrupamento humano.
A dificuldade maior ali reside no automatismo. E aqui, amplificando a busca de sentido, vou tomar um exemplo do Direito para interligar alguns conceitos.
É bem verdade que — juridicamente — a sociedade brasileira, por meio de seus representantes, deixou claro na Carta Maior a perspectiva de proteção ao trabalhador em face de inovações tecnológicas que viessem a extinguir deliberadamente o sustento de famílias inteiras, in verbis:
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei.” (CF/88, art.7º, XXVII)
Todavia, se no plano jurídico há proteção contra a automação, no plano sociológico quase nada nos protege do automatismo do pensamento. Afinal, quem impede a maioria de consolidar a hegemonia de uma visão a ponto de aniquilar o indivíduo?
É uma implementação sutil. Em 99% dos casos, nasce nos líderes de movimentos que se agigantam pelo Brasil e pelo mundo. E eu poderia ilustrar esse processo como o que acontece quando colocamos a água sobre o fogo para realizarmos um dos primeiros desejos que a maioria de nós tem todas as manhãs: o de saborear um nobre café. Leva tempo até surgirem as primeiras bolhas, avisando que a fervura chegou e tudo mudará de forma — a expansão começa, e o processo de mudança de estado quebra a restrição anterior fazendo com que a solução líquida possa, enfim, conquistar "novos ares", literalmente. Ou seja, toda estrutura já foi pequena; nasceu como ideia aparentemente inofensiva, até conquistar terra, "novos céus" e mares.
Mas eis o paradoxo: o que nasceu no indivíduo pode terminar por aniquilá-lo. Ideias que um dia foram convidativas e pessoalmente cativantes convertem-se em celeiros de exclusão da própria origem de seu nascimento. Na verdade, a sociedade manifesta o que é: uma estrutura de consolidação coletiva cujo desdobramento fatalista é preservar o conjunto, mesmo que para isso tenha que sacrificar os membros “incompatíveis” com o sistema.
No ambiente religioso cristão, isso ganha cores próprias. Existem peculiaridades que, se não forem discernidas desde o início, romantizam o avivamento, institucionalizam a esperança e automatizam a fé — até que a chama que um dia acendeu o coração vire protocolo, e o que nasceu como um sopro de vida se transforme em uma máquina de rotina espiritual.
2. A Manutenção da Operacionalização
A maioria das pessoas tem dificuldade em lidar com a quebra de padrões. E, de certo modo, não podemos culpá-las: o próprio cérebro humano é programado para reconhecer, reproduzir e criar padrões. É a maneira pela qual a mente tenta organizar o caos da existência — traçando conexões, repetindo gestos, ritualizando processos. Por isso também a quebra de ciclos sempre gera desconforto.
Quando olho para a dinâmica da estrutura ministerial — esse corpo vivo que, ao mesmo tempo, serve e se serve — percebo algo curioso: muitos dos que nele atuam não têm plena consciência do resultado final daquilo que produzem.
Uma vez instalado, esse automatismo sempre redireciona o foco da missão para a manutenção do movimento. Ele é o grande responsável por transformar o “servir” em um fazer ininterrupto, e o “por que” em “para quando”: quando e o que faremos no próximo culto, na próxima campanha, na próxima conferência... tudo se torna um ciclo de execuções, em que, inevitavelmente, a agenda substitui gradativamente a essência.
E, paradoxalmente, quanto mais intenso o ritmo, menor a lucidez espiritual. Pessoas muito ocupadas com o “fazer” raramente têm tempo ou disposição para discernir as motivações do “ser”. Na verdade, sendo bem franco, "fazedores", de um modo geral, demonstram pouca ou nenhuma habilidade em decifrar as motivações ou razões últimas de existência e de permanência do ente coletivo. E é impressionante como essa regra vale no Brasil.
E quando essa reflexão é abandonada, o que nasce é um tipo de consciência coletiva institucional, uma mente comum — que pensa, sente e reage de forma homogênea, mas que, no fundo, aniquila a singularidade da alma. Assim, a fé se torna sistema, e a voz de D’us começa a soar como ruído dentro da engrenagem.
E, por isso, esse processo, ainda que sutil, é profundamente espiritual. Ele troca o discernimento pessoal pela aprovação do grupo, a inspiração divina pela execução mecânica, e a chama viva do Espírito por procedimentos previsíveis. Assim, o que um dia começou como um sopro de avivamento passa a ser operacionalizado, planejado, organizado demais — até que o que outrora milagre passe a ser nomeado rotina.
3. A Consciência Coletiva Institucional
Não há dúvida dos benefícios sociais que as igrejas e instituições religiosas cristãs oferecem. Os projetos em periferias, presídios e ações de assistência social são expressões genuínas de compaixão e presença — um socorro a seres humanos esquecidos pelo Estado, pela família e, muitas vezes, pela própria sociedade.
Minha intenção aqui não é fazer uma apologia à destruição das igrejas ou algo do tipo. Pelo contrário — quero contribuir para a elucidação de nossa condição atual, examinando as causas e consequências de um estado espiritual que, por vezes, parece inerte, dissolvido e cansado de si mesmo.
Quando trato de consciência coletiva, percebo que ela se estrutura a partir de emblemas. São rótulos simbólicos que funcionam como atalhos de pertencimento e, ao mesmo tempo, como muros de defesa. Eles permitem que o indivíduo resolva, sem conflito interno, a distância entre o que se prega e o que se vive — entre o dever ser proclamado pelas Escrituras e o ser concreto da experiência diária.
Esses emblemas se tornam ponte e escudo, identidade e fuga. E, sem perceber, a comunidade passa a se autoalimentar de seus próprios símbolos, como um corpo que recicla continuamente as suas células.
Mas vou tentar explicar isso de uma melhor maneira. Considerando o coletivo cristão institucionalizado como um organismo, a imagem se completa quando compreendemos um pouco mais o documento que descreve originalmente este corpo: a Bíblia Sagrada.
Veja: os apóstolos e o próprio Cristo nomearam como "Igreja" — o “corpo do Messias” —, um ente vivo, místico, atemporal, transcultural e transnacional. Quando encontramos no século XXI um setor social intitulado pelo mesmo nome, não é difícil compreender por que ele herda, por associação direta, as mesmas características e atributos espirituais destinados ao ente bíblico original.
Assim, ocorre o que chamo de “casamento arquetípico”: a metáfora espiritual e o fenômeno social se unem em um mesmo título e emblema. Aquilo que antes era mistério e revelação, ganha estrutura e endereço. O que estava nas páginas milenares das Escrituras, parece agora respirar concretamente entre nós.
E até aí, tudo bem. "Nada de novo no front", uma vez que o próprio Novo Testamento apresenta a mesma designação para algumas coletividades notáveis implantadas pelos Apóstolos. Só que o nosso grande problema começa quando o espelho se esquece do rosto que reflete. Ou seja, quando o ente contemporâneo, que deveria representar o corpo do Messias, se desvia sutilmente de sua natureza original, pervertendo a própria vocação. Em vez de espelhar a santidade, ele institucionaliza o movimento e padroniza a experiência, se deslocando, assim, para uma rota de colisão direta com a descrição profética e sagrada da verdadeira Igreja do Messias, presente na Bíblia.
O resultado é um sistema religioso eficiente, mas espiritualmente exaurido. A operacionalização, antes ferramenta, passa a ser o próprio fim — revestida de linguagem devocional, mas mecanizada na essência. E, nesse processo, o que poderia nutrir de modo saudável todo o tecido social adjacente, adoece, transformando-se em uma máquina de reprodução de ideias frágeis e biblicamente inconsistentes.
E, finalmente, a cada novo convertido, um potencial novo soldado é treinado — não para discernir, mas para repetir. E assim, sem perceber, o sistema perpetua o erro com o zelo de quem imagina estar servindo ao Divino. É a infeliz continuidade de um estado degradante de coisas, mantido e equacionado pela apropriação de rótulos simbólicos pertencentes a uma coletividade que não anula, mas verdadeiramente integra os seus.
3.1 A Importação da Consciência Social do Homem Natural
Quando o ambiente da fé, que deveria ser o espaço de uma metanóia genuína, passa a adotar a lógica da hipervalorização das “coisas deste mundo”, nasce uma distorção perigosa: o espírito do século disfarçado de espiritualidade.
Nessa transposição, a clássica nomeação hobbesiana do Estado como Leviatã encontra eco dentro de muitas instituições religiosas. Pois, se o Estado descrito por Hobbes representava um monstro social criado para controlar os homens, o mesmo se pode dizer de instituições religiosas que, esquecendo a pureza do Evangelho, se transformam em máquinas de dominação espiritual — erguendo novamente e dando "vida" ao mal já derrotado na Cruz.
Yeshua foi categórico:
“O meu Reino não é deste mundo.” (João 18:36)
Mas a verdade é que, em muitos casos, o que deveria manifestar o Reino de D’us se converteu em um espelho ampliado das contradições humanas. A fé, em vez de libertar, tem sido moldada segundo o molde do mundo — e, nesse processo, o que emerge é um monstro sistêmico, travestido de piedade, mas alimentado por poder, controle e vaidade.
A perversidade sistêmica
Agora, veja a perversidade que quero nomear aqui como sistêmica:
A sociedade brasileira transpira um colapso permanente — 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Todos buscam algo: um conforto, uma ascensão, um alívio. Mas, sendo bem franco aqui, a vida ruim do brasileiro não tem, nem de longe, um sinalizador de melhoria. O panorama é sombrio. E, infelizmente, no caos a vulnerabilidade espiritual cresce.
Vejamos os sintomas mais evidentes:
a) Governo corrupto
A corrupção é a espinha dorsal da miséria nacional. Enquanto poucos desviam milhões e bilhões de estatais e orçamentos públicos, hospitais, escolas e serviços essenciais são reduzidos a migalhas — distribuídas à população como ração a um rebanho prestes ao abate.
b) Criminalidade e violência
Não há cidade no Brasil que inspire paz. O medo é um residente fixo. Roubos, homicídios e violência cotidiana aniquilam a dignidade da vida, transformando o brasileiro em sobrevivente.
c) Crise econômica e educação
Uma sociedade dividida em matizes políticas ideologizadas, com a maioria dos integrantes incapaz de resolver uma conta de padaria, torna-se terreno fértil para o engano coletivo.
A educação precária e instrumentalizada prepara mentes confusas — e, natural e inevitavelmente, abre caminho para o espírito do Anticristo, que prospera principalmente onde há ignorância e idolatria intelectual.
d) Crise familiar
Aqui está o epicentro do colapso. Ideologias deformadas, empenhadas em destruir a família — a primeira instituição criada por D’us — pervertem sentimentos e mentes, garantindo a perpetuação do sistema de controle e submissão. Pessoas sem base tornam-se presas fáceis; quem não tem raízes é levado por qualquer vento.
A vulnerabilidade espiritual
Quando uma sociedade inteira adoece, os vulneráveis se tornam multidão. E pessoas vulneráveis tendem a abraçar versões distorcidas da verdade, pois toda dor busca um remédio — ainda que falso.
Assim, quando alguém sem direção encontra uma mensagem de salvação, é natural que associe essa mensagem à melhoria imediata da vida, e não à transformação profunda da alma, na busca de uma vida nova garantidora de um reino que está por vir.
E aqui residem boa parte dos problemas da igreja cristã brasileira. E, infelizmente, nós temos que admitir que a promessa de salvação está sendo confundida com uma garantia de "pão e peixe" por muitos. E não é necessário ser tão velho ou tão jovem para perceber que algo precisa ser alterado rapidamente, sob pena do final ser ainda mais assustador, devido ao surgimento do Monstro.
Confundir o Evangelho com uma promessa de prosperidade material é, talvez, o único caminho que faltava para a igreja cristã brasileira se parecer de fato com o jovem rico de Mateus 19.
A fé que deveria apontar para o Reino vindouro passou a vender pão e peixe como sinal de bênção. E isso tem acontecido culto após culto de um modo tão natural que a mera sinalização de contra-argumentação pode ser o motivo para a instauração de um verdadeiro conflito cristão de matizes nucleares. Investigue um pouco a reação de líderes de certos setores eclesiásticos, caro leitor, e verás se esta descrição encontra-se no campo do exagero ou não, em que pese a sua não literalidade óbvia.
O fato é que, sem perceber (ou talvez percebendo propositadamente) muitas igrejas já transformaram o altar em balcão, e o chamado à cruz em programa de sucesso pessoal.
E assim, em muitos exemplos do caso brasileiro, já podemos ver as características do Monstro dominador hegemônico. Não aquele dos mitos antigos, mas o que se ergue de dentro da própria religião, alimentado por vulnerabilidade coletiva, ambição disfarçada de fé, e discursos que substituem o arrependimento por autoajuda.
O Leviatã espiritual cresce — e cresce rápido — enquanto as pessoas acreditam estar servindo a D’us, quando na verdade estão apenas servindo ao sistema, e, notadamente, a si mesmas, infelizmente.
4. O Avivamento Romântico
Diante desse cenário caótico, em parte silencioso, a frase que ecoou em minha mente ("nunca romantize um avivamento") parece conquistar novas texturas e significados.
A romantização de um avivamento nasce da imprecisão no discurso e da superficialidade das ideias que circulam no ambiente pensado originalmente para ser o lugar da "comum unidade" com o Pai. Esse comportamento garantirá, ao fim e ao cabo, que os indivíduos sejam re-cooptados pelo seu "eu interior", enquanto buscam tão somente a validação positiva divina dos projetos e aspirações de melhoria de vida terrena e transitória que cada um carrega consigo. É o caos silencioso instaurado com o aval de quem deveria conduzir o povo à conscientização diária da finitude do estado de coisas que nos cerca, e a uma nova esperança.
Quando o ambiente religioso cristão é contaminado por esse espírito, não há mais diferença entre o sagrado e o profano. As coisas "que o olho não viu" (1Co.2.9) e que ainda encontram-se reservadas aos que amam a D'us tornam-se tão irrelevantes que uma mansão em Alphaville ou uma viagem ao Texas parece mais representativa de um patamar compatível com a "qualidade de vida conquistada pelo Cordeiro", afinal, Ele disse que veio para que tenhamos "vida em abundância", não é mesmo?
O próprio crescimento numérico do protestantismo brasileiro segundo o IBGE reflete essa deformação.
O que era para ser transformação espiritual virou indicador estatístico.
O que deveria ser testemunho de fé, virou produto de mercado.
Hoje, um pensamento profundo que emerge de boa parte do que é chamado de “evangelho”, consolidado por deturpações como a teologia/ideologia da prosperidade, a mistura religiosa pentecostal, dentre tantas outras catástrofes "gospel" pode ser resumido em uma frase:
“Nossa salvação é o nosso pão e o nosso peixe — e é agora.”
Assim, o que é chamado reiteradamente nos meios cristãos como “avivamento” deixou de expressar a ação intensa do Espírito na conversão genuína e na testificação do juízo sobre os ímpios para designar a nostalgia da evocação remota de "memórias daquilo que a gente nunca viveu".
O problema é que a sociedade estudada pelos nossos novos "aspirantes a avivalistas" nem de longe é a mesma dos dias de hoje. É que o predito profeticamente pelo apóstolo já se cumpriu em nossos dias, num grau assustador:
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos...” (2 Timóteo 3:1-2)
E é exatamente isso que vemos. O homem moderno, centrado em si, confundindo “avivamento” com "pão e circo", Camaro de vidro fumê, óculos Ray-ban em Copacabana, livre, leve e solto de arrastões, governo evangélico e picanha pra todo mundo. Esse cenário é literalmente, senhoras e senhores, o fim da picada gospel!
O Autoengano Coletivo
Embora eu não seja tão velho para lembrar de alguns movimentos espirituais do passado, nem tão jovem para ser inexperiente no assunto, aprendi algo que não posso negar:
Romantizar um avivamento é o maior autoengano espiritual de um indivíduo e de uma comunidade de fé.
Em que pese aquilo que chamei de "narrativa" gospel induza ao contrário, o fato é que nem mesmo a própria Igreja institucional abriga a totalidade dos que hão de ser salvos. A comprovação bíblica disto está em diversas passagens das Escrituras, mas, podemos tomar, como exemplo, o que Jesus disse em Apocalipse:
“Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono.” (Apocalipse 3:21)
Perceba: a visão romântica de avivamento idealiza uma espécie de “aldeia global da fé”, como se, de repente, as pessoas deixassem de mentir, corromper e roubar. Mas o verdadeiro cenário profético descrito por Yeshua para os nossos dias é, em larga medida, o oposto — um tempo de acentuação do caos, da desordem social, do clima, de pânico, fomes e terremotos, e até mesmo da utilização de armas biológicas como fomentadores do aumento das pestes e doenças "em vários lugares".
“...e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio das dores.” (Mateus 24:7-8)
Considerando isso, você consegue perceber que a maioria dos que induzem a consciência coletiva de um "avivamento gospel" tendem a não contar a história toda?
Nesse sentido, o apóstolo Paulo trouxe uma importante informação:
“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um é dada a palavra da sabedoria, a outro a fé, a outro os dons de curar, e a outro, a operação de maravilhas... Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (1 Coríntios 12:7-11)
“Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles para a edificação da igreja.”
(1 Coríntios 14:12)
O Espírito não se manifesta para entretenimento público. Tão pouco Yeshua almeja aparecer para dar um show de seu poder a todos os homens. Isto seria o mesmo que pular do pináculo do Templo. E sabemos bem quem o incitou a isto (ver Mt.4.5-7).
O Avivamento Verdadeiro
O verdadeiro avivamento é uma capacitação espiritual da Igreja (o Corpo do Mashiach) para, basicamente, três propósitos fundamentais:
Enfrentar a apostasia e a sujeição global ao Império das Trevas. [Mc.16.15-18]
Dar uma resposta coerente e iluminada à sociedade confusa, que já não distingue a mão direita da esquerda — nem sob o ponto de vista moral, nem espiritualmente. [Jd.1.22-23]
Servir de testemunho da aproximação do Reino de D'us aos que já não conseguirão encontrar lugar de arrependimento, devido a medida de seus pecados já ter sido atingida para a aplicação do juízo da Ira de D'us. [Mc.13.9-11]
Por tudo isso, acredito que vivemos, sim, um momento de transição. Mas é nessa travessia que surgem os contrastes mais agudos: as linhas mais deturpadas e as mais fiéis de interpretação da Realidade e das Escrituras.
O fato é que, dificilmente, um povo que clama por avivamento com motivações erradas estará preparado para o que realmente está por vir.
E o que virá está claramente descrito nas palavras do próprio Messias:
“Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes... porque haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora.” (Mateus 24:15-22)
Yeshua também nos advertiu sobre a sedução do materialismo:
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro...
Não podeis servir a Deus e a Mamom... Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:24-34)
E Paulo reforça:
“Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos.” (Romanos 12:16)
“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança nas riquezas,
mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos.” (1 Timóteo 6:17-19)
E, finalmente, a cena no Sinai — quando o povo, impaciente pela ausência de Moisés, exigiu um novo deus:
“Então, todo o povo arrancou os pendentes de ouro que estavam nas suas orelhas e os trouxeram a Arão.
E ele formou o ouro com um buril e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.” (Êxodo 32:1-4)
O mesmo espírito ecoa hoje: o povo, cansado de esperar, cria seus próprios deuses — ídolos dourados de prosperidade, visibilidade e fama. Mas o verdadeiro avivamento não nasce do ouro. Ele nasce do arrependimento. Não surge do grito coletivo, mas do gemido sincero de quem se dobra diante do Altíssimo.
Em verdade, o Avivamento não é um romance com a Existência. É a resposta temporal correta para as visões que tiveram os profetas antigos, a respeito de um tempo em que o Filho de D'us seria entronizado entre as nações, reinando de Jerusalém para o mundo, aplicando os princípios estabelecidos pelo Pai, e direcionando os súditos para o recebimento de seu verdadeiro galardão: a Vida Eterna.
Também, a grande diferença entre o tipo de avivamento pensado pelos que somente reproduzem irrefletidamente o discurso majoritário e o genuinamente descrito e profetizado nas Escrituras consiste no quesito finalidade e propósito. Ou seja: enquanto aquele preconiza o consolo pelo conforto de salvação do "aqui e agora" de "nossa vida ruim", este constitui-se num registro espiritual e eterno dedicado a antagonizar, respondendo na Terra ao aumento considerável da atuação do Príncipe das Trevas e das forças espirituais da maldade que, partindo das regiões celestiais, encontrar-se-ão, neste último capítulo da humanidade, de mãos dadas com aqueles que não hão de herdar a Salvação do Mashiach.
Diante desse cenário, resta a nós, e à Igreja como um todo, a escolha de qual caminho seguir: o da realidade da Verdade, ou o do romantismo da Ilusão.
Novamente: “Buscai, antes, o Reino de D'us e a sua justiça, e todas as demais coisas vos serão verdadeiramente acrescentadas." (Mt.6.)
Shalom!
